MAS AFINAL, O QUE É PAGANISMO?
Paganismo é um termo amplo e geral dado às formas de espiritualidade panteístas, animistas, totêmicas, de bases xamanísticas e na maioria das vezes politeístas que são centradas nas forças da natureza. O Paganismo não pode ser considerado uma religião, mas sim o pilar central que engloba o modo de vida, os conceitos espirituais e filosóficos nos quais todas as expressões religiosas focadas na natureza se apóiam para o desenvolvimento de seus fundamentos. Assim, poderíamos dizer que qualquer religião centrada na Terra e que não encare o Sagrado de forma transcendente e não seja monoteísta é Pagã.
Os estudiosos têm classificado o Paganismo em três subdivisões: Paleopaganismo, Mesopaganismo e Neopaganismo.
Paleopaganismo é o termo geral usado para as fés tribais intactas centradas na natureza e encontradas na antiga Europa, África, Ásia e Américas politeístas. O Paleopaganismo é praticamente inexistente nas sociedades urbanas modernas e somente é encontrado, talvez, em regiões distantes e intocadas pela presença da influência do homem contemporâneo.
Mesopaganismo é usado para se referir a uma série de movimentos organizados e não organizados que surgiram com o intuito de recriar e/ou reviver aquilo que seria o Paleopaganismo. Ele pode ser considerado um Paganismo intermediário, que engloba os elementos Pagãos que se mantiveram vivos até a Idade Média e influenciaram a Maçonaria, o Rosacrucianismo e a Teosofia, por exemplo. No entanto, tais tentativas não podem ser consideradas Paganismo per se, pois foram fortemente influenciadas pelos conceitos, valores e práticas de muitas religiões monoteístas judaico-cristãs.
Neopaganismo é a terminologia moderna corrente usada para uma variedade de movimentos, geralmente não organizados, iniciados desde a década de 1960, com raízes antigas ou não. Nessa classificação de Paganismo estão inclusos todos os que tentaram criar, recriar, reviver ou continuar as práticas do Paganismo de diferentes culturas. Essa categoria de Paganismo inclui ideias e tentativas de eliminar os conceitos inapropriados, assim também as atitudes e práticas das religiões e visões de mundo monoteístas, dualistas e ateístas. Pode ser considerado um movimento iniciado pela sociedade contemporânea para restabelecer a adoração à natureza. Essa definição pode incluir qualquer tentativa, desde os movimentos reconstrucionistas até os grupos não reconstrucionistas como o Neodruidismo e a Wicca.
Assim, a Wicca é uma religião Neopagã, um nome alternativo dado à Bruxaria Moderna, que se inspira no Paganismo dos Antigos Povos da Europa Ocidental e que se propõe a celebrar novamente a Deusa Mãe e os Antigos Deuses da natureza, criando e recriando os rituais das antigas culturas onde estas Deidades foram celebradas um dia. A Wicca é o reavivamento e a sobrevivência moderna dessa Antiga Religião baseada na Terra e suas manifestações. Suas raízes espirituais estão no neolítico e paleolítico europeu, tempo em que os povos primitivos cultuavam a Deusa Mãe como a grande criadora, nutridora e sustentadora da vida.
POR QUE WICCA E BRUXARIA PODEM SER CONSIDERADAS SINÔNIMOS?
Quando a cristianização aconteceu na Europa a palavra Bruxaria (do inglês Witchcraft), que era anteriormente aplicada somente às práticas religiosas Pagãs europeias de culto à Deusa, foi largamente utilizada para descrever qualquer prática religiosa nativa de uma localidade existente antes do Cristianismo.
Com isso, todas as vezes que os inquisidores cristãos se deparavam com novas práticas religiosas que não sabiam como denominar davam a ela o nome de Bruxaria. Muitas e muitas pessoas de outros subgrupos tais quais judeus, ciganos, curandeiros, cientistas foram condenados à fogueira pelo crime de Bruxaria. Isso trouxe confusão sobre quando a terminologia Bruxaria deveria ou não ser utilizada e que perdura até os tempos atuais.
O grande problema nos países de língua latina em relação ao correto entendimento dos dois termos é a semântica.
A palavra em inglês para Bruxaria é Witchcraft, que tem as mesmas raízes (Wicce, Wit, Wird, Wych e muitas outras) que a palavra Wicca. Logo, para americanos e europeus tais palavras estão intimamente relacionadas entre si, são consideradas sinônimas para representar a mesma coisa.
A palavra Wicca vem do inglês arcaico Wicce, que significa girar, dobrar e moldar.
Encontramos outras palavras na mesma raiz, sempre a ligando a algo mágico ou sagrado.
Alguns pesquisadores dizem que o termo Wicca se origina do indo-europeu Weik, significando algo como magia. Outros afirmam que ela se origina do anglo-saxão Wic, significando sábio.
Alguns estudiosos, porém, afirmam que essa palavra vem da raiz germânica wit que quer dizer “saber”. Deduzimos daí que a palavra WICCA significa “a sabedoria de girar, dobrar e moldar as forças da natureza a nosso favor”, um dos objetivos da Bruxaria.
O autor Jeffrey Burton Russell explica ampla e maravilhosamente bem a etimologia da palavra Wicca em seu indispensável livro A História da Bruxaria:
A origem recuada da palavra inglesa witch é a raiz indo-europeia *weik”, a qual se relaciona com religião e magia. Weik produziu quatro famílias de derivativos: 1. wih, que originou o inglês arcaico wigle, “feitiçaria”, e wiglera, “feiticeiro”; e, através do francês arcaico e medieval, o inglês moderno guile. Também o inglês arcaico wil, o inglês medieval e moderno wile. 2. O norueguês arcaico *wihl-, “astúcia”. 3. *wik-, “santo”, “sagrado”, donde o alto-alemão antigo wihen e o alemão weihen, “consagrar”, o alto-alemão medieval wich, “santo”, e o latim victima, “sacrifício”. 4. *wikk-, “magia, feitiçaria”, donde o alemão medieval wikken, “predizer”, e o inglês arcaico wicca, wicce, “bruxo”/”bruxa”, e wiccian, “fazer bruxaria, sortilégio, feitiço”. De wicca deriva o inglês medieval wltche e o moderno witch.
Diferente de *weik e suas derivações é weik, “dobrar”, “submeter”, donde o inglês arcaico wican, “dobrar”, do qual deriva o inglês moderno weak, “fraco”, “dócil”, e witch-elm, olmo escocês, popularmente chamado “olmo-de-bruxa”. Relacionados com wican estão o saxão antigo wikan, o alto-alemão clássico wichan e o norueguês arcaico vikja, significando todos dobrar ou desviar.
Já a palavra Bruxaria tem origem no grego “brouxos” que significa simplesmente lagarta. Havia uma antiga crença popular de que as Bruxas se transformavam em mariposas para voar ao Sabbat, o que torna possível que a palavra tenha sido usada primeiramente com esse sentido e posteriormente sido incorporada para designar a religião das Bruxas.
Então, para entendermos o porque os praticantes da Wicca consideram Bruxaria palavra sinônima para Wicca e apenas atrelada à sua religião e à nenhuma outra sorte de práticas mágicas, temos que aceitar que a Bruxaria que estamos nos referindo é àquela atrelada à palavra inglesa Witchcraft. Se isso não for levado em consideração, o uso do termo Bruxaria quando traduzido para o Português pode fazer o leigo acreditar que a Wicca e Bruxaria pareçam não ser a mesma coisa pura e simplesmente por causa da origem disntinta entre as palavras. É exatamente por isso que usamos o termo Feitiçaria, e NÃO Bruxaria, para designar as diversas sortes de práticas mágicas desassociada dos aspectos religiosos da Arte. Qualquer discussão que não levar em consideração isso torna-se nula e dá margem para uma série de incompreensões que resultam nas discussões em posts como esse.
Atualmente há uma confusão de termos e muitos afirmam que Wicca e Bruxaria seriam coisas distintas. Quem nunca ouviu o famoso ditado: Todos os Wiccanianos são Bruxos, mas nem todos os Bruxos são Wiccanianos?
Para compreendermos o porquê dessa confusão de uso de termos, precisamos pensar um pouco no cenário Pagão da década de 1950 e sua evolução ao longo da história de nossa religião.
Lá, em meados da década de 50, falar a respeito de Bruxaria era considerado uma heresia e crime. Isso é compreensível em uma sociedade que era ainda influenciada por fortes preconceitos e conotações negativas atribuídas ao longo de processos de perseguições àquilo que se acreditava ser Bruxaria.
Hoje, sabemos que na realidade muito disso era pura fantasia e invenção e que provavelmente a maioria das pessoas que morreram durante a Inquisição eram bons cristãos que incomodavam o pensamento da Igreja Católica (a religião dominante e a lei da época) por algum motivo e que por isso precisavam ser banidas da sociedade. Por essa razão elas eram nomeadas de hereges e consequentemente Bruxas e condenadas à execução. Isso gerou uma verdadeira programação social e assim surgiu o uso comum da palavra Bruxa para denominar os praticantes de todos os tipos de práticas espirituais, religiosas ou mágicas diferentes e estranhas às convencionais e aceitas: as Cristãs.
Quando a última das leis contra a Bruxaria foi banida na Inglaterra em 1951, Gerald Gardner apareceu em cena afirmando que as Bruxas pré-medievais e medievais perseguidas, na realidade, eram praticantes da Antiga Religião da Europa Ocidental. Segundo ele, essa religião teria sobrevivido clandestina por meio dessas pessoas que se encontravam nas florestas para celebrar seus Antigos Deuses Pagãos e que as muitas retratações e relatos atribuídos aos encontros de Bruxas, feitos na época da Inquisição, ligando-as a um culto demoníaco era, na realidade, uma deturpação promovida por motivos religiosos e políticos para denegrir a imagem da Bruxaria, a verdadeira religião dos antigos europeus. Afirmou, ainda, que essa prática teria sobrevivido com um novo nome, cuja raiz chegaria até a palavra Bruxaria (em inglês Witchcraft) e que o nome moderno para essa antiga Religião era Wicca.
Deixando as controvérsias sobre a veracidade das alegações de Gardner de lado, mas nos focando na história da evolução do uso comum das palavras Wicca e Bruxaria, pois é isso que nos interessa, no início, essas duas palavras eram vistas como sinônimas usadas intercaladamente, representando um sistema mágico-religioso promovido por Gardner e muitos dos Bruxos que se tornaram populares na época.
Janet Farrar, iniciada de Alex Sanders, disse em uma entrevista concedida exclusivamente à 3ª Conferência de Wicca & Espiritualidade da Deusa, realizada em 2007, que o que Alex Sanders fazia estava longe de ser o que hoje consideraríamos Wicca. Alex Sanders estudou Magia Cerimonial muito tempo antes de conhecer a Wicca e nela ser iniciado e encontramos várias incongruências em suas práticas. Quem já não viu suas famosas fotos dentro de um círculo de magia cerimonial com inscrições de nomes como Adonai, El Shaday e muitos outros enquanto realizava um ritual “Wiccaniano”?!
Além de dizer que isso é uma pura contradição, Janet afirma ainda que ele, como muitos outros, no alvorecer da Wicca, estavam praticando um mix entre folclore Pagão europeu e Magia cerimonial cabalística fortemente influenciada por ordens tal qual a Golden Dawn, que era ainda muito influente na época. Isso está distante dos caminhos da Wicca propostos por Gardner e daqueles caminhos que a Arte acabou por percorrer mundialmente, afastando-se cada vez mais de elementos judaico-cristãos para beber em fontes mais apropriadas ao espírito da Wicca: o Paganismo europeu autêntico, de bases puramente xamanísticas.
Janet Farrar, que foi uma das primeiras iniciadas de Alex Sanders, disse ainda as seguintes palavras sobre a discussão de Wicca e Bruxaria serem a mesma coisa:
“Um santeiro, um sacerdote do Vodu ou um Xamã são Bruxos? Pela visão Cristã, sim. Qualquer Cristão chamaria um santeiro, um praticante de Vodu ou um Xamã pelo termo Bruxo em função do uso comum da palavra. Mas eles não são Wiccanianos e um Wiccaniano seguramente não os chamaria de Bruxos. A palavra Bruxaria aparentemente é um termo específico para o sistema de magia popular da Europa Antiga dentro da comunidade Neopagã atual.”
No livro Progressive Witchcraft, escrito também por Janet Farrar e seu atual marido Gavin Bone, a autora diz:
Por: Claudiney Prieto