Todos os estudos mostraram que a autocompaixão aumenta a resiliência psicológica.
Na verdade, a autocompaixão se tornou um campo de estudo em expansão que atrai o interesse de muitos outros pesquisadores. Alguns dos resultados mais interessantes dizem respeito à saúde física das pessoas.
Um estudo recente mostra que pessoas com grande autocompaixão têm menos probabilidade de relatar uma variedade de doenças, como dores nas costas, dores de cabeça, náuseas e problemas respiratórios.
Uma explicação poderia ser uma resposta silenciosa ao estresse, com estudos anteriores revelando que a autocompaixão reduz a inflamação que normalmente acompanha o sofrimento e pode danificar nossos tecidos a longo prazo.
Mas os benefícios para a saúde também podem ocorrer por conta das diferenças de comportamento, já que as evidências mostram que as pessoas com maior autocompaixão cuidam melhor de seu corpo com dieta e exercícios.
“Pessoas com níveis mais altos de autocompaixão geralmente são mais proativas”, diz Sara Dunne, psicóloga que estudou a ligação entre autocompaixão e comportamentos saudáveis na Universidade de Derby, no Reino Unido.
Ela compara isso ao conselho de um pai bem-intencionado. “Ele diz que você tem que ir para a cama, levantar cedo e depois resolver seus problemas”, diz ela. Da mesma forma, alguém com grande autocompaixão sabe que pode se tratar com gentileza, sem críticas indevidas, enquanto, ao mesmo tempo, reconhece o que é melhor para ela no longo prazo.
Esse é um ponto importante, diz Neff, já que alguns dos primeiros críticos de seu trabalho se perguntaram se a autocompaixão simplesmente levaria a um comportamento preguiçoso e baixa força de vontade.
Precisamos da autocrítica para nos motivar a fazer mudanças importantes em nossas vidas. Como evidência contra essa ideia, ela aponta uma pesquisa de 2012 que descobriu que pessoas com elevada autocompaixão mostram maior motivação para corrigir seus erros.
Por exemplo, tendem a trabalhar mais duro depois de falhar em um teste importante e são mais determinadas a compensar uma transgressão moral percebida, como trair a confiança de um amigo.
Parece que a autocompaixão pode criar uma sensação de segurança que nos permite enfrentar nossas fraquezas e fazer mudanças positivas em nossas vidas, em vez de ficar na defensiva ou criar uma sensação de desesperança.
Intervenções rápidas
Se você quiser colher alguns desses benefícios, agora há evidências abundantes, do grupo de pesquisa de Neff e de muitos outros, de que a autocompaixão pode ser treinada.
As intervenções populares incluem a “meditação da bondade amorosa”, que orienta a focar nos sentimentos de perdão e cordialidade por você e pelos outros.
Em um ensaio recente, Tobias Krieger e seus colegas da Universidade de Berna, na Suíça, desenvolveram um curso online para ensinar esse exercício, junto com lições mais teóricas sobre as causas da autocrítica e suas consequências.
Depois de sete sessões, eles descobriram aumentos significativos nas pontuações de autocompaixão dos participantes, junto com uma redução no estresse, ansiedade e sentimentos depressivos.
Também existem intervenções escritas, como escrever uma carta da perspectiva de um amigo amoroso, que podem proporcionar uma melhoria significativa, diz Neff. Para a maioria das pessoas, o hábito da autocrítica não parece tão arraigado que não possa ser evitado.
Neff diz que viu um interesse crescente por essas técnicas durante a pandemia. Para muitos de nós, as dificuldades do isolamento, do teletrabalho e de cuidar das pessoas que amamos forneceram o terreno fértil para a autocrítica e a dúvida.
Embora não possamos eliminar essas tensões, podemos pelo menos mudar a maneira como nos vemos e o que pode nos dar resiliência para enfrentar os desafios.
Agora, mais do que nunca, devemos parar de ver a autocompaixão e o autocuidado como um sinal de fraqueza, diz Neff.
Por David Robson