ARQUÉTIPO DA TERRA
Quando falamos do arquétipo da Terra, estamos também inevitavelmente nos referindo ao arquétipo do Céu, e à relação entre os dois. É só depois que separamos o que está aqui embaixo com o que está lá em cima, que entenderemos o simbolismo do que está acima que é leve, claro, masculino e ativo, e a Terra, que está abaixo e é pesada, escura, feminina e passiva.
A humanidade como um todo reunida em torno do arquétipo Terra está associada tanto à este mundo que é corpóreo, tangível, material e estático, quando ao seu simbolismo oposto do Céu que está ligado ao outro mundo, incorpóreo, intangível, espiritual e dinâmico. Para entendermos o arquétipo da Terra e da Deusa Mãe Terra, devemos entrar em contato com as contradições Céu e Terra, Espírito e Natureza.
A imagem patriarcal cristã da Terra, durante a Idade Média, era sem nenhuma ambiguidade, negativa, ao passo que o arquétipo positivo do Céu era dominante. A parte decaída inferior da alma pertencia ao mundo da Terra, enquanto que sua verdadeira essência que é o “espírito”, se originava no lado celestial masculino de “Deus”, ou do Mundo Superior. O lado terreno então, deveria ser sacrificado em nome do Céu, porque a Terra era feminina, pertencendo ao mundo dos instintos, representada pela sexualidade, sedução e o pecado.
Esta autonegação do homem, desperta em nós não apenas espanto, mas horror, em virtude da natureza humana terrena, ser considerada repulsiva e má. Depreciação da Terra, hostilidade para com a Terra, que nos alimenta e protege, são expressão de uma consciência patriarcal fraca, que não reconhece outro modo de ajudar a si mesma a não ser fugir violentamente do domínio fascinante e avassalador do terreno.
Foi somente a partir da Renascença que a Terra libertou-se desta maldição, tornando-se Natureza e um mundo a ser descoberto que aparece com toda a sua riqueza de criatura viva, que já não estava em oposição com um Espírito Céu da divindade, mas na qual a essência divina se manifesta. O espírito que de agora em diante será buscado é espírito da Terra e da humanidade.
VALORIZAÇÃO DE GAIA
Como se respondesse a nossa atual crise de meio ambiente, o nome Gaia se escuta hoje em dia por todas as partes. Existe a “Hipótese de Gaia” do físico James Lovelock, que propõe que o planeta terra seja um sistema auto-regulado; a “consciência de Gai”, que instiga para que a terra e suas criaturas sejam consideradas um todo e simplesmente e o termo “Gaia”, que expressa reverência faz do planeta um ser vivo de que toda a vida depende. A esse fenômeno está associada a ideia que só uma personificação do planeta pode devolver-lhe uma identidade sagrada, de modo que seja possível estabelecer uma nova relação entre os seres humanos e o mundo natural.
Não é coincidência que m pleno século XXI regresse a mentalidade grega para formular essa experiência, posto que no Ocidente a última Deusa da Terra foi Gaia. É certo que na mitologia clássica a Deusa já tinha a mesma posição de Mãe Suprema de todo o ser vivo que tinha no período Neolítico, no entretanto, a terra seguiu sendo inclusive em filosofia, um ser vivo (zoon), segundo a terminologia platônica. Essa consciência perdeu-se nas referências judias e cristãs em essa perda se faz evidente no modo em que passamos a tratar a terra como se fosse matéria morta. Fica óbvio portanto, que Maria, a Deusa Mãe reconhecida pela igreja cristã, tenha adquirido todos os atributos das Deusas Mães, exceto o de Deusa da Terra.
No entanto, no século VII a. C., a realidade de uma só Deusa havia passado à história e a unidade original da terra e do céu se havia perdido na lenda dos inícios. Hesíodo que, como Homero, em torno de 700 a. C., evoca essa época tal como sua mãe se recordava. Sugere, talvez, como uma cultura de uma Deusa que ficou na lembrança através das histórias transmitidas de geração para geração, no colo das mães:
“Não de mim, sim de minha mãe, procede o conto de como a terra e o céu foram uma vez uma só forma”.
RECONHECENDO A DEUSA
As imagens mitológicas da Grande Mãe, Criadora do Universo, são numerosas, como numerosos são estágios da revelação do ser dela, mas a forma mais difundida e conhecida de sua manifestação, a forma que define sua essência é a de Terra Mãe.
Reverenciar os princípios femininos e a consciência da Deusa Gaia, nos ajuda a nos colocar em contato com a beleza e a magia da natureza e todas as suas criaturas.
Reconhecer esta Deusa da Natureza, como nossa Mãe Terra amorosa, ajuda a expandir nosso respeito ao meio ambiente e nossa busca do equilíbrio entre as energias masculinas e femininas, para que, em lugar de competir, trabalhemos juntos, para o bem individual e coletivo.
A maioria das mulheres, já lançam mão da sabedoria da Deusa, para ocupar seu espaço na terra e no presente milênio.
Vamos deixar que a Deusa renasça, se expresse em nossas intenções, vontades e desejos, para que possamos extrair de nosso corpo os movimentos sagrados de sua dança e deixar que embale nossos sonhos.
NUTRI TEU AMOR PELA TERRA
Reverenciar Gaia não requer nenhuma fé, a simples consciência das manifestações da natureza que ocorrem a nossa volta, já é o bastante para absorvermos sua energia. Nos conectarmos com Gaia é mais simples ainda:
Caminhe descalços na terra, areia ou grama, a sensação é deliciosa;
Em uma praça ou jardim, feche os olhos e tente identificar o cheiro das flores;
Coma seu alimento de cada dia consciente que tudo é presente de nossa Mãe Terra;
Abrace um bebê e admire conscientemente o milagre da vida;
Sente-se na grama e observe as formigas trabalhadeiras em seu diário trabalho de sobrevivência;
Coloque os pés descalços na terra e brinque de árvore, enraizando-se e sugando a seiva da Terra;
Você mesma pode inventar seu ritual, desde que esteja em contato com a Natureza, tudo é válido.
Por: Rosane Volpatto
Site: https://artemistica.net/mitologia/deusa-gaia-a-mae-terra/